Riscos na soldagem: guia de análise e prevenção

Soldador profissional equipado com máscara e luvas de proteção demonstra os constantes riscos na soldagem ao trabalhar em uma grande tubulação de aço industrial.

Os principais riscos no processo de soldagem podem ser divididos em 5 categorias principais: 1) Riscos físicos: perigos evidentes como queimaduras por calor e respingos, lesões oculares pela radiação UV/IV e perda auditiva pelo ruído. 2) Riscos químicos: ameaças invisíveis como os fumos metálicos, que são carcinogênicos e podem causar doenças pulmonares graves. 3) Riscos ergonômicos: lesões por esforço repetitivo (LER/DORT) e dores crônicas causadas por posturas inadequadas. 4) Riscos de acidentes: perigos imediatos como cortes, choques elétricos, incêndios e explosões. 5) Riscos biológicos: contaminações por vírus e bactérias em caso de ferimentos.

O brilho intenso do arco elétrico corta o ar e o cheiro de metal quente preenche o ambiente. Para muitos, é uma cena de rotina no chão de fábrica; para o profissional de SST, no entanto, é o epicentro de uma responsabilidade crítica: gerenciar uma operação complexa onde a pressão por produtividade e o risco de um acidente grave disputam cada segundo.

Mas a sua função evoluiu. Não se trata mais apenas de cumprir normas, mas de atuar como um parceiro estratégico que protege o negócio ao proteger as pessoas.

Este guia foi construído para você. É uma ferramenta de análise dos riscos na soldagem que vão além do checklist. Aqui, vamos mergulhar na anatomia dos perigos, conectar cada risco a uma solução prática e, finalmente, fornecer os argumentos que você precisa para defender uma cultura de segurança proativa e inteligente.

O que é e quais os principais processos de soldagem?

Antes de mergulhar nos riscos, é crucial alinhar os conceitos básicos. De forma direta, o processo de soldagem é a operação que une materiais (geralmente metais) de forma permanente, por meio da aplicação de calor, pressão ou ambos. O objetivo é criar uma junta com a mesma integridade e resistência do material original. A fonte de energia e a técnica usada em cada processo de solda impactam diretamente os tipos de perigos aos quais o trabalhador estará exposto.

Conheça os principais tipos e suas particularidades técnicas:

  • SMAW (Eletrodo Revestido)
    É um processo versátil, indicado para trabalhos em campo, que gera muitos fumos e escória.
    Observação técnica: caracteriza-se pelo equipamento simples e boa tolerância a contaminantes. Por outro lado, possui menor produtividade e exige maior retrabalho na remoção da escória.
  • MIG/MAG (GMAW)
    Oferece alta produtividade e ótimo acabamento, utilizando um arame contínuo e gás de proteção (inerte no MIG, ativo no MAG).
    Observação técnica: é o processo mais usado na indústria devido à alta taxa de deposição. Contudo, é sensível ao vento e exige um fluxo de gás adequado.
  • TIG (GTAW)
    Processo de alta precisão que produz soldas limpas e sem respingos, aplicado em materiais “nobres” e que demanda elevada habilidade do soldador.
    Observação técnica: resulta em cordões limpos e isentos de escória, mas com menor velocidade de solda. É ideal para aços inox, alumínio e ligas especiais.
  • Arame Tubular (FCAW)
    Similar ao MIG/MAG, mas com o fluxo de proteção contido no interior do arame, o que garante alta penetração.
    Observação técnica: pode ser autoprotegido ou utilizar gás. Suporta vento moderado e tem produtividade elevada, mas gera mais fumaça nos fios autoprotegidos.
  • Oxiacetilênica
    Utiliza uma chama de gás combustível para soldar ou cortar, apresentando um risco elevado de incêndio.
    Observação técnica: a chama atinge aproximadamente 3.100 °C e é indicada para manutenção leve e brasagem. Seus cilindros de gás requerem normas de manuseio rígidas.

A anatomia dos riscos na soldagem: 5 grupos que você precisa dominar

Uma análise de risco eficaz começa por organizar o caos. Para estruturar um PGR robusto, é fundamental dissecar os perigos nos 5 grupos oficiais. Vamos ver como cada um se manifesta no universo da soldagem e como combatê-los.

Riscos físicos: a ameaça visível

São os perigos mais óbvios, mas também os mais frequentes.

  • O que são: calor irradiado, contato com peças quentes, respingos de metal fundido, radiação ultravioleta (UV) e infravermelha (IV) do arco elétrico, e ruído excessivo de processos como goivagem ou esmerilhamento.
  • As consequências: queimaduras de 1º a 3º grau, lesões oculares graves (“arc-eye”), danos permanentes à retina e perda auditiva induzida por ruído (PAIR).
  • A solução imediata: a linha de frente da proteção exige EPIs específicos. Para a rotina de soldagem pesada, luvas de raspa forradas como a Heat Plus são essenciais para bloquear calor e respingos. Em cenários de calor extremo, a barreira térmica da Luva Heat Blue se torna a escolha técnica para máxima segurança.

Riscos químicos: o inimigo invisível

Aqui mora o perigo que não se vê, mas que deixa sequelas para a vida toda. Muitos se perguntam: mas afinal, o que a solda pode causar à saúde? E aquela fumaça de solda eletrodo faz mal de verdade?

  • O que são: fumos metálicos (partículas finíssimas de ferro, manganês, cromo, níquel) e gases (ozônio, óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono) gerados durante o processo de soldagem.
  • As consequências: a IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer) classifica os fumos de solda como carcinogênicos. A exposição crônica pode levar a câncer de pulmão, doenças neurológicas (manganismo), asma ocupacional e a “febre dos fumos metálicos”.
  • A solução imediata: a proteção respiratória é inegociável, utilizando respiradores PFF2 ou PFF3. Além disso, sistemas de proteção coletiva (EPCs), como exaustores localizados, são cruciais para limpar o ambiente de trabalho.

Insight para o Revendedor: Seu cliente (o profissional de SST) está sendo cobrado por metas de ESG e redução de custos. Em vez de apenas vender um respirador, ofereça uma consultoria. Use o argumento técnico-financeiro: “Sei que a gestão dos fumos metálicos é um ponto crítico para o seu PGR e para o FAP. Um sistema de proteção respiratória adequado não só garante a conformidade com a NR-15, mas também evita afastamentos e melhora a percepção de cuidado da empresa, impactando positivamente nos seus relatórios de sustentabilidade.

Com isso, você deixa de ser um “tirador de pedido” e se torna um parceiro de negócios que oferece uma solução de gestão, fidelizando o cliente pela inteligência, e não apenas pelo preço.


Riscos ergonômicos: o custo silencioso da produtividade

Um soldador que sente dor não produz com qualidade. A ergonomia é um fator direto de lucratividade.

  • O que são: posturas forçadas e mantidas por longos períodos, levantamento de peso, movimentos repetitivos e vibração de ferramentas como lixadeiras.
  • As consequências: lesões na coluna, ombros e punhos (LER/DORT), fadiga crônica e queda na qualidade e velocidade da solda, gerando retrabalho e custos.
  • A solução imediata: pausas programadas e rodízio de tarefas são essenciais. E a tecnologia do EPI faz toda a diferença. É aqui que a escolha de uma luva com alta destreza, como a Luva de Vaqueta, deixa de ser um detalhe e se torna um fator de produtividade, especialmente em processos de precisão como TIG. Para processos que exigem essa precisão combinada com proteção térmica, tecnologias híbridas como a Luva Heat de Vaqueta são a solução.

Riscos de acidentes: o perigo iminente

São os riscos que podem levar a um evento grave em uma fração de segundo.

  • O que são: cortes no manuseio de chapas metálicas, perfurações, quedas de objetos, projeção de partículas, choques elétricos e incêndios ou explosões por vazamento de gases.
  • As consequências: de lacerações e fraturas a amputações e fatalidades.
  • A solução imediata: além de EPCs como biombos e extintores, o EPI correto é a última barreira. Para a proteção mecânica do dia a dia, uma boa luva de raspa para soldador é a base da pirâmide. Soluções robustas como a Linha Clute e a Linha Dorso Liso são desenvolvidas para essa rotina de manuseio intenso, resistindo à abrasão e protegendo contra cortes.

Riscos biológicos: a ameaça esquecida

Menos óbvio, mas presente, especialmente em ambientes de manutenção.

  • O que são: contato com superfícies ou ferramentas contaminadas, podendo levar à contaminação por fungos, bactérias ou vírus como o do tétano.
  • As consequências: infecções de pele, dermatites e doenças graves como o tétano.
  • A solução imediata: manter a vacinação em dia e garantir a correta higienização e armazenamento dos EPIs.

Construindo a fortaleza: como estruturar a prevenção na prática

Conhecer os riscos é o mapa do território. Agora, vamos construir as defesas. Uma prevenção eficaz se baseia em um programa estruturado, seguindo uma hierarquia de controles clara.

  1. O alicerce (PGR): o Programa de Gerenciamento de Riscos é seu documento mestre. Ele deve conter a identificação dos perigos, a avaliação quantitativa (quando aplicável) e, o mais importante, o plano de ação com as medidas de controle.
  2. A primeira linha de defesa (EPCs): antes de pensar no EPI, pense no ambiente. Sistemas de exaustão localizada, cortinas de solda para proteger contra radiação e a correta sinalização são Equipamentos de Proteção Coletiva que reduzem o risco na fonte.
  3. A última barreira (EPIs): a seleção do Equipamento de Proteção Individual deve ser criteriosa e técnica, baseada nos riscos específicos de cada processo de soldagem. Para se aprofundar e aprender a escolher cada item corretamente, desde vestimentas a luvas, consulte nosso guia completo sobre EPI para Soldador. A gestão desses EPIs, incluindo treinamento, inspeção, higienização e descarte, é tão importante quanto a seleção inicial.
  4. A inteligência (medidas administrativas): aqui entram os procedimentos, treinamentos, rodízio de funções e pausas ergonômicas. É a camada de gestão que garante que as ferramentas (EPCs e EPIs) sejam usadas corretamente.

Perguntas frequentes: respostas rápidas para as dúvidas mais comuns

Para complementar nossa análise, reunimos as perguntas mais pesquisadas por profissionais e trabalhadores sobre o universo da soldagem. São respostas diretas para esclarecer conceitos fundamentais sobre os processos e a segurança.

Como funciona o processo de soldagem?

De forma simples, o processo de soldagem une permanentemente duas ou mais peças de metal. Isso é feito ao aquecê-las a uma temperatura de fusão, com ou sem a adição de um material de preenchimento. Ao esfriar, os materiais se unem, formando uma junta única e resistente.

Quais são os processos de solda?

Existem dezenas de processos, mas eles geralmente se enquadram em três grandes categorias: soldagem a arco (SMAW, MIG/MAG, TIG), soldagem a gás (como a oxiacetilênica) e soldagem por resistência.

O que é o processo MIG/MAG?

É um processo de soldagem a arco que utiliza um arame consumível alimentado de forma contínua e um gás de proteção para isolar a poça de fusão da contaminação do ar. A sigla significa Metal Inert Gas (MIG) ou Metal Active Gas (MAG), dependendo do gás utilizado. É conhecido por sua alta produtividade.

Qual o melhor processo de soldagem?

Não existe um “melhor” processo de soldagem para tudo. A escolha ideal depende de múltiplos fatores, como o tipo de metal, a espessura da peça, a posição da soldagem, o acabamento desejado e o ambiente de trabalho (interno ou externo). Cada processo, como TIG, MIG/MAG ou Eletrodo Revestido, tem sua aplicação ideal.

Quais são as 4 posições básicas para o processo de soldagem?

As quatro posições fundamentais são:

  1. Plana (1G/1F): a posição mais simples e comum, onde a solda é feita de cima para baixo.
  2. Horizontal (2G/2F): a solda é realizada em uma junta horizontal.
  3. Vertical (3G/3F): a soldagem é executada verticalmente, seja de forma ascendente ou descendente.
  4. Sobre-cabeça (4G/4F): a mais desafiadora, onde a soldagem é feita por baixo da peça.

Conclusão: da análise de risco à cultura de prevenção

Entender cada processo de solda e seus riscos é a base. Mas a verdadeira transformação acontece quando a segurança deixa de ser uma obrigação e se torna um valor, uma vantagem competitiva.

Como profissional da área, você está na posição ideal para liderar essa mudança. Ao conectar cada EPI, cada treinamento, cada medida de controle a um resultado de negócio, seja a redução do FAP, o aumento da produtividade ou o fortalecimento da marca empregadora, você consolida seu papel estratégico.

Acredite: a Zanel é sua parceira nessa jornada. Não fabricamos apenas EPIs; entregamos a segurança, a durabilidade e os argumentos técnicos que você precisa para construir um ambiente de trabalho mais seguro e um negócio mais forte.

Agora, gostaríamos muito de ouvir você, pois sua perspectiva como profissional é o que enriquece a discussão sobre segurança. Você acredita que este guia foi útil? Incluiria ou retiraria algo? Fique à vontade para compartilhar sua opinião ou experiência nos comentários abaixo.

Até breve!

Fernando Zanelli
Reconhecido como um dos maiores especialistas do Brasil em EPIs de Raspa e Vaqueta, acumula mais de 25 anos de experiência prática e aprofundada em toda a cadeia produtiva: do curtimento do couro à entrega do produto final.

Pontos chave deste blogpost

  • Visão 360° dos riscos: uma gestão de segurança eficaz na soldagem vai além do óbvio, exigindo um mapeamento completo dos 5 grupos de risco: físicos, químicos, ergonômicos, de acidentes e biológicos.
  • Perigo invisível é prioridade: os fumos metálicos são classificados pela IARC como cancerígenos e representam a ameaça mais grave a longo prazo, tornando a proteção respiratória e a exaustão medidas inegociáveis.
  • Ergonomia impacta a produtividade: posturas incorretas e movimentos repetitivos não geram apenas lesões; eles afetam diretamente a qualidade da solda, causam retrabalho e diminuem a eficiência da operação.
  • Prevenção é um sistema: a proteção do soldador segue uma hierarquia. Medidas de proteção coletiva (EPCs) e administrativas devem ser priorizadas antes de se depender exclusivamente do EPI.

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